Lembram da matéria onde falamos sobre um famoso giz e seu criador, que também faz parte da família Asbemge?

Pois é! Vamos apresentar agora a criação e seu criador.

Sabe aquele giz azul de botequim, que passamos na ponta do taco de qualquer jeito, para dar uma tacada sob a qual não temos domínio algum, mas que achamos bonito fazer por que todo mundo faz?!

Talvez você não saiba. Eu não sabia.

Os jogadores profissionais usam alguns recursos especiais. Tacos específicos cuidadosamente balanceados, sapatos apropriados, luvas e, entre outros, giz profissional.

Até conhecer a turma da sinuca da Asbemge, eu não fazia ideia da importância de um bom giz em uma partida.

Nas palavras do Chico, que conhecemos e apresentamos em matéria anterior, “com um bom giz consigo fazer muitas manobras diferentes e posicionar a bola branca onde quero”.

Ocorre que Chico, entre outros jogadores – em especial europeus – usa o Roger’s Chalk.

Trata-se de um giz de composição e processo de fabricação muito especiais, porém a curiosidade mais especial do giz é o seu dono. Seu criador também faz parte da nossa família: Luiz Rogério Colombo ou, como passou a ser carinhosamente chamado pelos amigos da sinuca após uma visita de seu sobrinho, o “Tio Lulu”.

Tio Lulu

Formado em Engenharia Química pela UFMG desde 1977, Tio Lulu começou sua carreira na indústria de azulejos, onde teve seus primeiros contatos com componentes minerais que mais tarde seriam tão importantes no desenvolvimento do seu precioso giz.

Com uma bela trajetória profissional, incluindo projetos internacionais, tio Lulu desenvolveu e liderou a produção de indústrias de alta relevância econômica, tais como tintas e telas de seligrafia e siderurgia.

Se especializou profundamente na indústria siderúrgica.

Dá uma aula de componentes químicos e tipos diferentes de metais com uma destreza de quem ensina a tabuada. Passou pela Mendes Júnior em Juiz de Fora, onde trabalhou com aço líquido em fornos e panelas de grande porte.

Imagine um forno de 8 metros de diâmetro que produz 40 toneladas de aço líquido por fornada, chegando aos seus aproximados 1.600 graus celsius.

EOF – Energy Optimizing Furnace em operação.

Por dominar a operação e a manutenção do forno EOF – Energy Optimizing Furnace, que custava há 20 anos atrás a módica bagatela de U$ 25 milhões, nosso Tio Lulu teve que se desenvolver no Inglês, no Francês e até mesmo no Tameil com complementos em árabe.

Seu conhecimento especial sobre o forno o levou a rodar o mundo treinando equipes de siderurgia. Fato é que ele sempre foi muito estudioso, dedicado às suas atividades e literalmente obcecado por um desafio.

Tio Lulu em suas consultorias, de frente para as panelas gigantes.

Em paralelo a esta história sua paixão pela sinuca ia se desenvolvendo. Sempre curtia disputar partidas de melhor nível e assistir campeonatos.

Até que, em 1986, tio Lulu compra uma mesa para assistir de perto um campeonato nacional. Na ocasião quem jogava próximo dele era o bicampeão brasileiro de sinuca, Jesus, que carregava os títulos dos anos de 79 e 80.

No intervalo da partida, Jesus, em idade já mais avançada, ficou um pouco cansado e pediu para se sentar na mesa do Tio Lulu, que ofereceu uma cadeira de imediato.

Ali começaram a conversar e em algum momento o assunto “giz” veio a tona. Jesus explicou que somente com o giz era possível fazer “malabarismos” na mesa. Tio Lulu, nosso curioso engenheiro químico, perguntou tudo que podia sobre o assunto. Composição, fabricante – importado dos EUA, comportamento do giz durante a tacada e outras questões de ordem técnica que dificilmente saberei repetir por aqui.

É neste momento que surge uma última pergunta na mente da nossa estrela: “Jesus, por que você não usa giz nacional?”.

E é aqui, exatamente aqui nesta mesa em 1986, que tio Lulu se sente desafiado. Jesus disse que o Brasil não estava apto a fazer um giz funcional. Que ele próprio já havia contratado 2 engenheiros para tentar desenvolver um giz e que não havia conseguido.

Nesta hora tio Lulu diz:

“Eu vou produzir um giz então.”

“Duvido!”. Jesus desafiou ainda mais…

Após este episódio, Tio Lulu investiu nos seus equipamentos, fechou um quartinho do seu apartamento em Juiz de Fora, comprou o giz americano para analisar quimicamente e começou sua empreitada.

Nesta época, auge da sinuca brasileira, passou a frequentar um salão de jogos do centro da cidade, onde havia o garçom Arara, que jogava muito bem. Ali fez um combinado para ir fornecendo amostras do giz, até encontrar uma composição que funcionasse melhor.

Após nada menos do que 2.078 experiências cientificamente catalogadas, ele encontra a melhor composição. A esta altura, a comunidade de jogadores de Juiz de Fora e arredores já não queria mais saber de outro giz que não fosse dele.

“Arara, me veja aí aquela amostra daquele rapaz que tá fabricando giz.” – esse era o pedido recorrente dos jogadores que frequentavam o local.

Surge então a marca Roger’s Chalk.

Giz do tio Lulu em ação.

Com uma composição bem especial que confesso, tio Lulu me disse qual é, o giz hoje é peça fundamental nos salões mundo afora. Não há um jogador profissional que não o conheça e seu principal mercado hoje está na Europa. É o único giz utilizado por Graeme Dott, campeão britânico de sinuca, que atualmente se encontra em 17º no ranking mundial.

Fato é que seu giz hoje concorre com grandes marcas mundiais, como o chinês Taom, que custa R$ 150,00 cada pedra.

Mas qual é o processo de fabricação do giz? Qual é a composição? Quais são os segredos?

Eu sei estas respostas.

Mas sinto dizer, caro leitor: levarei esse segredo para o túmulo!

Enfim, meus amigos, percebam as estrelas que temos por aqui.

Perceba como é evidente que a Asbemge é muito mais que um clube. É uma família repleta de curiosidades, pérolas e talentos escondidos.

Mas não tema:

Vamos descobrir todos estes talentos que temos por aqui e mostraremos estas estrelas e relíquias para todos.

Nossos parabéns ao Chico e ao Tio Lulu: dois amigos que esperamos ter conosco por muitos e longos anos!